terça-feira, 25 de novembro de 2008
Parceiros d'arte
Parceiro d’arte Preâmbulo e justificativa .Eu sempre gostei de caneta e papel, rabiscar, desenhar, escrever, mas sempre são poemas, poesias, pequenos textos. Não sou um escritor que narra, ou acostumado a escrever crônicas ou histórias. Portanto, peço que me perdoem as falhas do amadorismo, mas podem crer numa coisa: não foi “alguém que me disse”, é tudo real, é tudo verdade e por uma boa causa. Estarei inserido sempre nas histórias e nos episódios, porque o que conto são experiências e fatos que foram vividos por mim, em comum com o Silvio. Inicialmente, o texto pretende atender as solicitações de uma grande amiga e sobrinha do Silvio, a Michelle, que nesta comunidade , pede aos amigos que viveram com ele ou que sabem coisas sobre a vida dele, que manifestem as suas informações.Também desejo que estes escritos sejam de utilidade para os novos e jovens artistas e não artistas que gostam e valorizam a arte, a todos os seus amigos, os conhecidos e desconhecidos que queiram saber um pouco mais do que foi essa luz de vanguarda artística na cidade, na pessoa deste talentoso, rebelde e alegre gonçalense, o nosso muito querido Silvinho Silvaton. Recordai, a Arte é o único meio vital da cultura vindoura. Através da Beleza, vós vos aproximareis. Tens a Arte, tens a Luz MA geração do desbunde, das descobertas e da criatividade .Foi no começo dos anos 70, época em que o jovem da minha geração buscava, na cigania das estradas, nos lugares tranqüilos e belos, a plenitude da vida em toda a sua intensidade e pulsação, como alternativa vital a um obediente enquadramento a um sistema caduco e apodrecido, que eu e o Silvio nos conhecemos e iniciamos uma grande amizade e parceria artística. Éramos um pequeno grupo de artesãos e artistas, morávamos em São Gonçalo, RJ e viajávamos (carona, mochila, artesanato e sonhos) pelo Brasil e pelo mundo, atendendo a um impulso interno, na busca de se conhecer a si mesmo e viver sob a bandeira dos ideais de “paz e amor”. Pairava nos ares da estrada e nos encontros grupais dessa tribo, as conversas e as energias sobre Era de Aquário, Nova Consciência, espiritualidade, muita loucura, muito rock’in roll e muita ousadia para priorizar, sempre que possível, os impulsos do coração e ser o que se é. E foi nessa aura que rolaram os meus primeiros encontros musicais com o Silvio: A gente tinha uma casa alugada, no meio do mato, distante das cidades, pau-a-pique, sem chave na porta, com um rio, cachoeira e muitos cogumelos no próprio terreno da casa. Um lugar belíssimo e mágico chamado Sant’Ana de Japuíba, na raiz da serra de Friburgo, no RJ, onde a gente vivia na liberdade de ser o que quisesse, brincando no sonho da utopia. Uma comunidade louca, de muchileiros loucos, alternativos, sem grana, cheio de arte, graça e muitos sonhos. A casa também funcionava como pouso e descanso para andarilhos exaustos da estrada. E o Silvio, por total afinidade com o grupo, passou a ser uma presença constante com o seu violão, os seus desenhos livres e underground e o seu astral descontraído e irmão. Havia nessa casa um cachorro muito querido que “conversava” (uivando) com todos que freqüentava a casa, mas principalmente com o Silvio. Essa cachorro se chamava “rebelde” e, vem daí um dos codinomes do Silvio: “Silvinho Rebelde”. E desde esse tempo, 1971/72, que nunca mais nos separamos nas parcerias musicais, nas pinturas e nas vivências e práticas comuns pelos caminhos do auto-conhecimento. A seqüência do tempo nos fez verdadeiros irmãos.A Banda Marginalia em meados dos anos 70, precisamente em 1976, num desejo comum de se unir, tocar juntos e ter um veículo para expressar a nossa arte musical, eu (Elysio)- violão/baixo, Richard – violão/guitarra solo e Silvio –guitarra, cavaquinho, gaita e voz, montamos a nossa atrevida “Banda Marginalia”. A gente tocava e cantava as nossas próprias composições, com a nossa cara, a nossa identidade, com muita criatividade e 100% de originalia. Além do Rock e do Blues, o nosso show era composto de samba, bolero, baião, reggae, funk e tudo no fluxo do Dom, pois éramos, os três, autodidatas. As letras das músicas refletiam os desejos, as querências e os ideais da nossa geração e era com muito prazer, verdade e sentimento que a gente cantava e afirmava, sem caretice, a beleza da natureza, a paz, o amor, muito amor e liberdade: “Voar, que belo som / É a promessa / Nosso destino”..., diz a letra de um blues nosso. As várias facetas do artista Silvio se revelava nas funções que ele desenrolava quando tinha um show: os cartazes, as felipetas ou folders que anunciavam o grupo eram confeccionados por ele, sempre com as nossas engraçadas e bem desenhadas caricaturas. Temos aí então, a versatilidade do artista Silvio: o desenhista, o cartazista, o caricaturista e o músico: o violeiro, o cavaquinhista, o gaitista, o cantor e o compositor. A galera que sintonizava com o nosso trabalho e freqüentava os nossos shows eram o pessoal das feiras de artesanato, animadores culturais diversos, espiritualistas, boêmios, poetas benditos e malditos (Viva Denoir!), os loucos underground da época (Viva D.Pedroca I!) e os amigos amantes da música e da arte. E a gente se apresentava em diversos espaços culturais, centros culturais, centros esotéricos, colégios, bares, boates, festas, verãos culturais na praia, na rua...Em tempo: a grana que ganhávamos, em média, não dava para comprar duas caixas de cerveja, mas isso não importava. Os shows eram sempre uma brincadeira muito louca, muito saudável e muito gostosa. Era muito legal e, repetindo, com muito amor e prazer que fazíamos isso, que fazíamos arte! Ao grande Maestro Richard, em nome da música e da arte, a infinita gratidão pela parceria no primeiro momento na criação do grupo, pelas inspiradas composições e pelo enriquecedor aprendizado. À Neide Barreto, Rose, Jandilson, Tadeu Pinheiro, Glauber Fernandes, Magno, Silas, Daum, Celsinho, Gleide, Regina Luna, Joanir, Zédio, João, Reinaldo Baso, todos de S.Gonçalo,que foram alguns músicos, que em algum momento, tocaram ou cantaram com a banda na seqüência dos anos. A todos eles, um grande artístico e cultural agradecimento. E ao meu irmão Silvio (Silvinho ou Silvaton para quem queira), onde quer que você esteja, receba o nosso profundo e sempiterno reconhecimento por todo o seu trabalho, pela beleza e pela grandeza multi-dimensional da sua arte. Valeu! Valeu! Valeu Silvio! O Universo onírico da pintura, Tanto para o Silvio, quanto para mim, pintar e desenhar era como almoçar, jantar, dormir... a arte de se expressar através de cores e formas, além da música, sempre foi a nossa vida e o nosso destino. Quando (tardiamente) aconteceu, oficialmente, a I Exposição de Artes Plásticas de São Gonçalo, na Aliança Francesa, em 1977, a gente foi convidados a participar. Foi um encontro super maneiro, mas o contato com outros pintores, o intercâmbio de forças, de artes, a troca de idéias, a reunião de artistas e o cogitar do que se podia fazer a mais em prol das artes na cidade, foi o ponto alto do evento, o grande barato e a alavanca para outras exposições do gênero. Em tempo: O nosso grande amigo e parceiro Jailton ganhou o primeiro lugar com um belíssimo quadro. E essa foi, oficialmente, a pioneira amostra de arte em S.Gonçalo. Vários outros salões vieram na seqüência, os salões de inverno no centro cultural de S.G., no SESI, nas festas municipais, e a gente estava sempre lá, expondo os nossos trabalhos, na época, super surrealistas. Paralelo a essas exposições “oficiais”, em que eu, o Jailton e o Silvio sempre éramos convidados (sempre com “um-pé-atrás”, por causado nosso comportamento um tanto anárquico/anti social e uma notória rejeição ao sistema), aconteciam na marginalia, barzinhos temáticos, casas alugadas e porões transformados em espaços culturais underground para unir artistas pintores, músicos, poetas, cantores, atores, profetas, loucos adeptos do espírito livre e afinizados, sem caretice, sem convencionalismos, sem moda, sem censura, ou cerceamento de expressão, onde, com certeza, o nosso trabalho era muito mais apreciado e mais sentido. Sempre que se cogitava um espaço artístico novo, eu, o Jailton e o Silvio éramos convocados,e a nossa presença era certa. Muitos encontros oníricos aconteceram nessa época! Mas a gente não fazia só quadros. Além do mais, um quadro não é um gênero de primeira necessidade e por isso não é muito vendável. Principalmente quando se pinta aquilo que se tem vontade, sem se preocupar com o quadradismo da lógica e os padrões convencionais de pintura aceita, comercialmente falando. A gente sempre procurou não se prender a fórmulas prontas e buscava obter a liberdade para dar vazão às imagens do inconsciente e do pensamento. Os quadros não eram, por assim dizer, tão comerciais, não dava para sobreviver só com a venda deles e, enfim, não eram só quadros que a gente produzia.O Silvio era, por natureza, muito mais desenhista do que eu. Eu era mais pintor. E aí a gente fundia os dons e rolavam belos e viajantes visuais em painéis e murais por aí à fora. Durante muitos anos, a gente fez, a quatro mãos, vários interiores de bares, restaurantes, boates, clubes, salas de dança, cenários para teatro e bandas, colégios, salas e quartos de amigos, de amigos ... as imaginárias paisagens, os visuais, e as idéias surgiam na hora, no fluxo das inspirações e a gente viajava na criatividade e ria, ria, ria muito!!! Quando a pintura era em um bar, as bebidas sempre ficavam a nossa disposição e o risco do trabalho demorar a ficar pronto era grande. Tinha ocasião em que a gente terminava o dia bêbados, rindo e o acabamento ficava para o dia seguinte, mas o dono do bar nunca se arrependeu de ter nos contratado. Era muita loucura e muito gostoso trabalhar com o Silvio. Descontração absoluta, total...Certa vez ele pegou um trabalho grande no Clube Mauá, em S.G. e me chamou para ajudá-lo. Eram painéis enormes para o carnaval. Só o painel central media l4m x 10m. Eram frutas, muitas frutas. O abacaxi central devia medir uns três metros e meio. No final, ficou tudo muito bonito, os diretores do clube adoraram o trabalho e rolou um cascalho legal. Pegamos a grana, compramos um “purple-haze”, arrumamos um pára-quedas e fomos, com outros amigos, acampar. Foi uma viagem hiper fantástica e tri-loucos dias de muita onda e carnaval, curtindo a praia da Joana, em Rio das Ostras, no RJ. Valeu! No começo dos anos 80, durante três natais consecutivos, a parceria Silvio/Elysio foi para confeccionar cartões de boas festas. Todos feitos à mão, em papel canson, aquarela e nanquim. A produção 100% artesanal não dava para atender a todas as encomendas, que chegavam aos montes. E a novidade de fim-de-ano entre os amigos foram as trocas, entre sí, de cartões criativos, ímpares e artísticos que arteamos. Arte, Arte, Arte! Beleza e Arte na base! Episódios Artísticos Muitos brothers desenhistas dos anos 70/80 que eu conhecí sonhavam fazer revista underground. Aí o Silvio, o Marquinhos Andrômeda de S.G. e eu estávamos “à toa” e criamos umas histórias em quadrinhos, alguns cartoons, desenhos e textos e, atoamente, dedicamos alguns meses da nossa vagabundagem.Conversávamos, também, sobre o animador cultural que ele era, o tio Silvio, num CIEP, em Santa Izabel, SG. Sei que foram agradecidos (alunos, professores, diretores) anos dedicados a educação artística de crianças e adolescentes daquela comunidade. Em sua homenagem, a biblioteca do CIEP tem o seu nome.Também aqui no Sana, o Silvio era muito querido. Por causa da sua versatilidade artística e do seu jeito alegre, divertido e cativante, ele sempre era convidado à se apresentar na festa da cidade. A sua última aparição por aqui foi justamente na festa de 2005, onde tocou com o seu grupo de chorinho. Quando veio a notícia de sua transferência para outro plano, a cidade inteira ficou muito triste. Hoje, eu sou o contra-baixista e compositor de uma banda que formamos aqui no vale, o Raiz do Sana, que tem 8 anos de estrada, mais de 70 shows realizados e, em dezembro de 2005 lançou o seu 3° CD. Tem uma música nesse disco, de nome nômade, que é de autoria minha e do Silvio. É um baião funkeado que compomos nos anos 80 que eu amo (vale a pena conferir). Ele ficou muito feliz, quando a ouviu sendo tocada pela banda, na interpretação da vocalista, a Tati Veras, no show da banda, na festa do Sana de 2005. Desde o lançamento do disco até hoje, setembro de 2006, é essa música que abre os nossos shows, o que me faz sempre lembrar do amigo Silvio com alegria, dança e festa.É isso...E ficam aqui os meus reiterados desejos para que estes escritos atendam e contribuam para a pesquisa solicitada na comunidade dos “Amigos do Silvaton”; outros sim para que se mantenha lembrado nos registros memoriais da história, um pouco da vida e da contribuição cultural, dessa alma pioneira em eclosões artísticas, na pintura, na música e outras manifestações da Arte em S. Gonçalo, cidade onde o Silvio nasceu e se criou. Desejo também, que ele tenha cumprido plenamente, para consigo mesmo e com o Grande Pai, a tarefa divina a que se propôs, antes do antes, de embelezamento planetário(atributo da arte) e, com isso, Oxalá, tenha sido transferido à outras esferas de Luz, em Paz e Graça.Meu amigo Silvio, onde quer que você esteja: eu e a minha geração, meus filhos e a geração deles e os seres que vêem e vivem nas eternidades da sensibilidade, seremos sempre e infinitamente agradecidos, por sua existência luminosa e irmã de trajetória na busca da “Beleza Radiante”. O seu mérito, a sua arte e a sua estrela, com certeza, sempre estarão vivos e acesos no planeta azul e em nossos corações.Paz Profunda!Elysio
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